Atualmente, de acordo com sociedades internacionais de nutrição e de pediatria, como a American Academy of Pediatrics ou a Academy of Nutrition and Dietetics, sabe-se que é seguro fazer uma alimentação vegetariana em qualquer fase do ciclo de vida, incluindo a gravidez e infância. Para que nada falte nestas etapas do desenvolvimento, é essencial que a dieta seja bem planeada e monitorizada pelo pediatra e/ou nutricionista.
O bebé pode começar a alimentação vegetariana entre os quatro e os seis meses de idade, quando começa a alimentação complementar (ou diversificação alimentar), desde que apresente sinais de prontidão.
Antes da diversificação alimentar, se a mãe for vegetariana e estiver a amamentar, é necessária ainda uma avaliação do seu estado nutricional. Só assim é possível garantir que ingere a dose recomendada de todos os nutrientes, que serão fornecidos ao bebé a partir do leite materno.
Como garantir os nutriente necessários
A alimentação vegetariana pode ter diferentes variantes:
- ovolactovegetariana: exclui o consumo de carne e pescado, mas inclui ovos e laticínios;
- lactovegetariana: exclui o consumo de carne, pescado e ovos, mas inclui laticínios;
- ovovegetariana: exclui o consumo de carne, pescado e laticínios, mas inclui ovos;
- vegetariana estrita/vegana: exclui todos os alimentos de origem animal.
Durante uma alimentação vegetariana, da ovolactovegetariana à vegana, é importante ter atenção ao aporte de determinados nutrientes que poderão estar presentes em menor quantidade neste regime alimentar. Entre esses nutrientes incluem-se a proteína, ácidos gordos, ómega-3, vitamina B12, vitamina D, ferro, zinco, cálcio e iodo.
1. Proteína
De forma a assegurar o aporte de proteína, importa ingerir diariamente fontes proteicas como leguminosas (feijão, grão-de-bico, lentilha, soja e ervilha), ovos, tofu, laticínios, cereais integrais e pseudocereais (como a quinoa).
Outras opções são a proteína de cânhamo, gérmen de trigo, levedura de cerveja ou levedura nutricional, sementes (em farinha, no primeiro ano de vida) e os frutos oleaginosos. Durante o primeiro ano de vida, o bebé deve consumir estes frutos na forma de farinha ou creme e misturados noutros alimentos.
O seitan e a soja texturizada (granulada), por se tratarem de alimentos processados, devem ser evitados durante o primeiro ano. A partir daí, o seu consumo deverá ser ocasional.
2. Vitamina B12 e cálcio
A vitamina B12 não existe naturalmente em alimentos de origem vegetal e embora haja alguns produtos alimentares fortificados, o seu consumo poderá não ser suficiente. Assim, é recomendada a suplementação em bebés e crianças vegetarianas. A deficiência nesta vitamina poderá levar a disfunções hematológicas e neurológicas irreversíveis, pelo que prevenir défices é de extrema importância, devendo sempre ser respeitada a recomendação médica relativamente à sua suplementação.
A ingestão insuficiente de cálcio e vitamina D pode interferir sobretudo com o desenvolvimento ósseo. O consumo de cálcio é assegurado pela ingestão de leite materno/fórmula láctea (ou fórmula infantil de soja), de laticínios (como o iogurte ou queijo, idealmente sem sal até um ano de idade) e de hortícolas como brócolos, couves, acelgas e grelos.
O leite de vaca e as bebidas vegetais embaladas apenas devem ser incluídos na dieta após o primeiro ano de vida. Até lá, podem ser utilizados em pequenas quantidades em preparações culinárias.
Após um ano de idade, se os pais optarem por fornecer bebida vegetal ao bebé em alternativa à fórmula infantil ou leite de vaca, importa selecionarem uma bebida vegetal sem adição de açúcar, enriquecida em cálcio e vitamina D e à base de soja, por ser uma proteína de alto valor biológico.
3. Ferro e zinco
Relativamente ao ferro e zinco, o seu consumo numa alimentação vegetariana é assegurado pela ingestão de leguminosas, sementes (trituradas, no primeiro ano de vida), legumes de folha verde escura, frutos oleaginosos e alimentos fortificados.
A inclusão de fontes de vitamina C (tomate, kiwi, pimento, citrinos e morangos) na mesma refeição que fontes de ferro e de zinco potenciará a sua absorção. Deve ser evitado o consumo de laticínios como sobremesa às refeições principais, uma vez que o cálcio pode inibir a absorção de ferro, se consumidos ao mesmo tempo.
Para melhorar a biodisponibilidade de ferro e de zinco e a digestibilidade da proteína, é importante demolhar as leguminosas e os cereais integrais antes de os cozinhar.
4. Ómega-3
O consumo de fontes de ómega-3 numa alimentação vegetariana é sobretudo feito pela ingestão de algas, sementes e óleos de linhaça, chia e cânhamo, soja (e óleo de soja), frutos oleaginosos (particularmente nozes) e beldroegas.
A carência de ómega-3 pode ter impacto no desenvolvimento neurológico das crianças, pelo que a sua ingestão deve ser assegurada. De acordo com orientações da Direção Geral da Saúde (DGS), as algas podem ser introduzidas em pequenas quantidades a partir do 9.º mês e consumidas entre três a quatro vezes por semana. Devem ser oferecidas algas com menor teor de sódio (nori, wakame, arame), não sendo recomendado o consumo da alga hijiki na infância.
5. Iodo
Relativamente ao iodo, deve ser consumido pela mãe a amamentar, garantido o aporte necessário para o bebé a realizar aleitamento materno. Em alternativa, poderá ser obtido a partir das fórmulas infantis.
A partir do primeiro ano de idade, o sal poderá ser introduzido na alimentação do bebé em pequenas quantidades. No entanto, deve ser utilizado sal iodado. O consumo de algas em pequena quantidade e de lácteos também contribui para o aporte de iodo.
A suplementação numa alimentação vegetariana na infância
Por fim, quanto à necessidade de suplementação, tal como qualquer lactente, o bebé vegetariano deve realizar suplementação de vitamina D durante o primeiro ano de vida. A DGS recomenda ainda a suplementação de ferro e de vitamina B12. Adicionalmente, pode ser necessária a suplementação de ácidos gordos ómega-3 no caso de não ser suficiente o aporte fornecido pela alimentação.
O cumprimento destas diretrizes torna possível e segura a realização de uma alimentação vegetariana na infância, não devendo ser descuradas sob pena de comprometer o adequado crescimento e desenvolvimento da criança.