Ser mãe e ser pai é uma aventura na qual se conjugam as vidas mentais de duas pessoas. Juntas, vão criar um espaço para o bebé existir e o seu próprio “estilo” de serem pais, que é único e o melhor que for possível para ambos naquele momento. A construção deste espaço resulta de um processo de aprendizagem que, ainda que intuitivo, é complexo e envolve vários sentimentos, dúvidas, angústias e, claro, ansiedade parental.
Este é um período condicionado, em grande parte, pelas nossas experiências como bebés, pela forma como fomos cuidados, pelas fantasias que criamos nessa fase inicial de vida e pela forma como fomos processando essas vivências.
Por vezes, ao passar por alguns estados emocionais, este confronto entre o bebé que fomos e o bebé que nasce vem ao de cima. Nestes momentos, há pessoas que conseguem “fazer as pazes” com o que viveram e outras que acabam por projetar as vivências no bebé. Assim, ao longo do primeiro ano de vida do bebé, tanto a mãe como o pai terão de fazer um ajustamento psicológico.
Ansiedade parental: um sinal de alerta
A ansiedade é “normal” quando há uma mudança na nossa vida ou quando enfrentamos um desafio. Aliás, nestes contextos, acaba por ser protetora e importante para a nossa resposta. Se a encararmos dessa forma, percebemos que é natural que esteja presente nos primeiros tempos de vida de um bebé.
É por isso que muitas mães desenvolvem preocupação materna primária, um estado mental descrito pelo pediatra e psicanalista inglês Winnicott. Nesta fase, tudo o que pensam e fazem está totalmente vocacionado para o bebé. É como se, magicamente, se adaptam-se ao ritmo e às exigências do recém-nascido.
Nos primeiros meses, a ansiedade parental é também um sinal de alerta e de ligação com o filho. Não só tem de se aprender tudo sobre o bebé (em muitos casos pela primeira vez), como é preciso gerir a ansiedade. São várias as preocupações que passam pela cabeça dos pais nesta altura, sejam elas sobre a alimentação, o peso, a respiração, o sono ou a saúde do recém-nascido.
Todas estas questões, de uma forma mais leve ou mais profunda, falam-nos das angústias de morte e do medo que se pode sentir ao ter à sua responsabilidade um ser tão frágil e dependente.
Ser mãe: uma nova perspetiva da vida
Simultaneamente, as mães têm de reorganizar a sua identidade, passando de uma posição em que eram filhas e em que foram cuidadas e protegidas durante a gravidez, para uma em que são cuidadoras de um bebé.
Os relatos das mães falam-nos de sentimentos de ambivalência em torno da experiência da maternidade. Se por um lado estão felizes e apaixonadas pelo bebé, por outro sentem-se cansadas e ansiosas.
Também podem surgir sentimentos depressivos decorrentes das experiências do período pós-parto, de situações revividas a partir do nascimento do bebé e/ou de características de personalidade.
É também importante destacar o confronto entre o bebé real, com as suas exigências e características, e o bebé que foi imaginado e idealizado durante a gravidez.
A ansiedade parental pode aumentar quando ocorrem pressões externas, seja através das comparações entre bebés, ou por comentários de familiares, que nem sempre ajudam e, sobretudo, não validam o esforço que os pais fazem.
É que à ansiedade dos pais junta-se também a ansiedade do bebé. Os primeiros meses de vida são de uma adaptação ao novo meio, totalmente diferente da vida no útero.
Sabendo que este bebé não existe sozinho, e que não é apenas a mãe que o cria, mas também o bebé que cria a sua mãe, esta terá de evocar capacidades de empatia, de curiosidade, de organização e contenção, entre outras, que o bebé irá precisar para se desenvolver.
A ansiedade dos pais pode ainda ser acentuada por fatores como a forma como correu a gravidez, a saúde da mãe, a saúde mental dos pais ou o parto.
A importância da ajuda especializada para gerir a ansiedade parental
Sabendo que o início de vida é de uma importância crucial, podemos vivê-lo valorizando o instinto de que ninguém conhece melhor o bebé do que os seus pais, seguindo as pistas do bebé e percebendo que não há bebés iguais. Aceitando que a ansiedade faz parte, juntando paciência, tolerância e parando para pensar.
É também importante perceber quando a ansiedade começa a ser muita. Nesse momento, deve-se pedir ajuda especializada para dar significado a tudo o que se está a sentir e, desta forma, cuidar dos pais e da relação com o bebé.
Por fim, e voltando a citar Winnicott, compreendendo que a mãe/pai só precisa de ser “uma mãe suficientemente boa”, e que ambos têm recursos para desenvolver, reconhecendo que o verdadeiro alimento dos bebés não é a quantidade e “força” do leite, mas o amor que se dá em cada mamada/biberão, num colo em livre demanda de afeto.