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Como evolui a comunicação do bebé?

Como evolui a comunicação do bebé?

A comunicação do bebé começa ainda no útero e ganha novas dimensões ao longo dos primeiros meses e anos de vida. Conheça as várias etapas desta viagem.

Atualizado a 20/12/2022
7 MINUTOS DE LEITURA
Como evolui a comunicação do bebé nos primeiros anos de vida?

Quando começa um bebé a comunicar? Recordando o significado da palavra comunicar, do latim communico, are: pôr ou ter em comum, repartir, dividir, reunir, misturar, falar, conversar. A comunicação do bebé existe e só poderá ser compreendida no plano da relação. Dum lugar comum onde a mãe e o bebé dividem, reúnem e misturam as suas “falas”, recriando a sua própria linguagem.

Do útero ao primeiro choro

A comunicação do bebé inicia-se na vida intrauterina, nos movimentos sentidos e interpretados pela mãe, por vezes já como sinais do temperamento do bebé, abrindo espaço à ligação, à fantasia e à escuta, veiculando os primeiros diálogos mãe-bebé. No momento do nascimento, é esperado o primeiro som-choro do bebé, gravado como o primeiro grito de vida para o mundo.

Sobretudo nos primeiros meses, o choro é a principal via de comunicação do bebé, representando diferentes origens e necessidades: fome, sono, dor, mal-estar, fadiga. Por vezes, os pais podem ficar angustiados e frustrados por não compreenderem e não saberem o que fazer.

O choro é a nossa via de comunicação mais antiga e primitiva, surgindo dum tempo ainda sem memória nem compreensão, símbolo de vulnerabilidade e de força, da falta e do desejo e de um apelo e instinto de sobrevivência e desejo de relação e ligação a um outro.

A comunicação do bebé nos primeiros meses

Nos primeiros tempos de vida do bebé, o corpo é o lugar da comunicação, exigindo uma atenção e disponibilidade para a escuta e a observação dos sinais do corpo, da “fala” ainda sem palavras, e a necessidade do seu reconhecimento e interpretação, num caminho de construção de uma comunicação intersubjetiva. É na ligação e no encontro do interior dos pais com o interior do bebé que se constrói esta linguagem partilhada, na qual intuitivamente os pais recorrem ao baby-talk e às melodias banhadas pela relação, pelo afeto e criatividade.

Tal como o choro, a música acompanha-nos desde a origem, numa ligação ancestral de diferentes ritmos e sons, volume e melodias, manifesta nos costumes e rituais dos povos mais primitivos. Recordando Beethoven, “a música é o vínculo que une a vida do espírito à vida dos sentidos”.

Esta é também lugar de vínculo e ligação profunda na relação precoce. Na comunicação pais-bebé, as músicas e melodias cantadas pelos pais, reproduzidas ou inventadas, desempenham um papel fundamental de embalo, de acalmia, de estimulação e relação. Por vezes, são também âncoras de tranquilidade e pacificação para os próprios pais.

Dos 3 aos 12 meses: as primeiras vocalizações

Após o primeiro trimestre de vida, o bebé fica mais atento e desperto para o mundo que o rodeia, procura o contato sensorial com novos objetos e inicia a exploração do próprio corpo e meio envolvente por via da oralidade. A “boca” é lugar de conhecimento, exploração, comunicação e apropriação. Iniciam-se as primeiras vocalizações e sinais mais expressivos de comunicação do bebé.

Poderíamos perguntar-nos porque é tão importante conversarmos com os bebés, se ainda não compreendem os conteúdos que falamos. A comunicação do bebé desenvolve-se na e pela relação, num crescente trabalho de alfabetização, de ligação do corpo à palavra, envolvido pelos afetos num caminho de abertura à vida e ao mundo.

Assim, os primeiros anos de vida são preenchidos por inúmeras conquistas, aquisições, avanços e recuos, num ritmo e tempo individual. A noção de permanência de objeto, nomeadamente de que as coisas existem mesmo quando não as conseguimos ver, surge a partir dos 8/9 meses e é um marco importante no desenvolvimento, abrindo portas à possibilidade de designar, apontar, evocar e dizer as primeiras palavras.

É um período em que o bebé adquire uma representação na ausência e uma maior consciência do meio envolvente, surgindo assim a angústia ao estranho e ansiedade de separação dos pais.

Pelos 12 meses, a aquisição da marcha amplia as possibilidades de exploração e autonomia do bebé. Ao atingir uma posição vertical e, consequentemente, novas habilidades motoras, exige dos pais e cuidadores elevada supervisão e atenção ao risco.

A comunicação do bebé a partir dos dois anos

Prosseguindo o nosso olhar sobre a comunicação do bebé, os 24 meses inauguram a transição do período sensório motor para o período simbólico, no qual se iniciam os primeiros jogos de imitação e faz de conta. O bebé evolui nas suas possibilidades de representação simbólica do mundo, na comunicação e aquisição da linguagem e na consciência de causa-efeito dos próprios comportamentos.

Este é também um período de descoberta do “não” e de manifestações repetidas de oposição e desafio das rotinas. A aquisição do “não” surge no desenvolvimento do bebé como forma de comunicação, afirmação e controlo do meio envolvente, alertando os pais da sua necessidade de estabilidade e reforço dos limites.

Para o bebé, este é um tempo de procura e construção da sua individualidade, envolvendo novas explorações, recuos e períodos desafiantes para os pais e cuidadores.

Assim, a comunicação do bebé nos primeiros anos de vida estabelece-se na ligação e relação precoce por via da observação e imitação. Inicia-se num período pré-verbal, do lado do bebé ainda sem palavras, num olhar e ser olhado, numa intensidade de abertura e ligação a novos estímulos e aquisições.

As músicas, as melodias e palavras cantadas para o bebé, a ligação do corpo à palavra por via dos afetos, estão no centro da comunicação precoce. Contar histórias, brincar ao faz de conta, revisitar os contos de fadas e conversar com o bebé, são alimentos essenciais no desenvolvimento e na aquisição da linguagem e possibilidades de comunicação.

Os bebés aprendem por via da observação, exploração e imitação, introduzindo-nos na beleza e responsabilidade de criar e educar.

Margarida Costa Pereira
Margarida Costa Pereira
Psicóloga Clínica na Clínica Ser Eu
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