A palavra ‘hiperatividade’ vulgarizou-se, sendo muito comum dizer-se que uma criança é ‘hiperativa’ só porque é mais irrequieta do que outras. Na verdade, o défice de atenção e hiperatividade é uma perturbação do neurodesenvolvimento infantil, com características específicas, de diagnóstico mais difícil do que se julga. Estima-se que afete entre 10% a 15% da população em idade escolar.
Quais são os sinais de alerta
A partir dos 3-4 anos, um conjunto de comportamentos tem sido associado ao risco de dificuldades de aprendizagem. Entre estes, temos a irrequietude motora, dificuldade em manter a atenção e impulsividade, com dificuldade em adiar a gratificação. A melhoria gradual destes comportamentos, associada à capacidade para focar e diferenciar quais as tarefas importantes, é geralmente o fator chave para o diagnóstico diferencial com défice de atenção e hiperatividade (distinção entre comportamento problema e comportamento sintoma).
Começamos a preocupar-nos quando, na fase pré-escolar, os pais e/ou educadores relatam que a criança ‘saltita’ muito de tarefa em tarefa, que é incapaz de as completar, que tem alguma ou muita agitação motora.
Se a criança apenas consegue manter a atenção, quando a informação lhe é apresentada de determinada forma, em determinado contexto ou quando o ambiente está livre de estímulos distráteis, são antecipáveis dificuldades em contexto escolar onde seguramente existirão múltiplas formas de estimulação e input sensorial.
Geralmente, as crianças descritas pelos pais e/ou educadores/professores como imaturas têm problemas no controle da atenção ou socialização e requerem uma avaliação mais cuidada.
A imaturidade não é um diagnóstico em pediatria.
O défice de atenção e hiperatividade afeta mais rapazes ou raparigas?
De uma forma geral, as perturbações do neurodesenvolvimento são mais frequentes no género masculino e o défice de atenção não é exceção.
Esta diferença está relacionada com fatores genéticos e biológicos, embora cada vez mais se considere que talvez a diferença na prevalência entre rapazes e raparigas não seja assim tão grande. Isto porque os rapazes surgem na consulta muito mais precocemente (por norma, são mais agitados, irrequietos e impulsivos), enquanto elas vêm mais tardiamente.
Estratégias para lidar com uma criança com PHDA
As estratégias dependem dos sintomas que são preponderantes, ou seja, se há mais défice de atenção, mais hiperatividade e impulsividade ou se é um misto das duas coisas.
Há estratégias muito básicas, que podem ser aplicadas em casa e na escola:
- Fracionar a informaçãoque se transmite à criança (quando as informações são muito complexas e longas, ela ‘perde-se’, porque se distrai e só ouve o início ou o final da frase);
- Fracionar as tarefas;
- Reduzir os estímulos distratoresao pé da criança. Por exemplo, a mesa de trabalho (em casa ou na escola) deve ter apenas o material estritamente necessário à tarefa que vai desempenhar e não uma profusão de objetos;
- Dar mais tempopara realizar uma tarefa (incluindo as provas escolares) e verificar se foi terminada).
Ao lidar-se com estas crianças é também muito importante estabelecer contacto visual, ou seja, olhar ‘olhos nos olhos’. Se a criança estiver a olhar para nós, temos um bocadinho mais de certeza que está atenta e focada naquilo que estamos a dizer.
Há crianças que têm, de facto, comportamentos muito difíceis — são mais desafiantes e mais opositoras — e tem de haver um treino parental. Ou seja, temos de ensinar aos pais e outros cuidadores mais próximos as estratégias específicas para gerir os comportamentos mais difíceis, de forma a direcioná-los no sentido mais adequado e saudável.
Saiba mais sobre “Como saber se uma criança tem défice de atenção e hiperatividade?” no site Hospital da Luz.
