Fechar pesquisa
Como falar sobre guerra com crianças

Como falar sobre guerra com crianças

Devemos falar com as crianças sobre guerra? Como o devemos fazer? Saiba quais as melhores estratégias para abordar e explicar o tema aos mais pequenos.

Atualizado a 05/05/2023
8 MINUTOS DE LEITURA
como falar sobre guerra com criancas

A guerra é um tema recorrente nos vários meios de comunicação, da televisão às redes sociais. A exposição à informação e imagens de conflitos pode criar dúvidas e incertezas, ao mesmo tempo que gera preocupação e ansiedade. A gestão emocional em torno do conflito é um desafio para todos e as crianças e jovens não são uma exceção. Neste contexto, é fundamental proteger os mais novos, mas nunca devemos evitar ou ignorar o assunto.

Abordar a guerra de acordo com a idade

De acordo com a Inês Almeida, psicóloga na Clínica Lusíadas Gaia, esta conversa deve depender da idade da criança. Em idade pré-escolar, os adultos devem tentar omitir o assunto, seja ao evitar conversar sobre o assunto ou expor as crianças às notícias e imagens. Não existem vantagens em abordar o assunto nesta faixa etária, sobretudo se a criança não mostra interesse.

Quando as crianças se encontram em idade escolar, deve acontecer o oposto. É essencial conversar com as crianças sobre a guerra, principalmente se demonstram interesse ou dúvidas sobre o tema. Os adultos devem disponibilizar-se para escutar os seus receios, sentimentos e questões.

Contudo, esta conversa deve ser ajustada à idade, maturidade, experiência de vida e capacidade de compreensão. O adulto deve explicar o que se está a passar, de forma clara, racionalizando a informação e procurando tranquilizar a criança.

 

Evitar falar sobre guerra não é opção

Quando evitamos falar sobre o tema com as crianças, sobretudo quando estão ativamente à procura de respostas, podemos intensificar a sua ansiedade pois entende que o adulto não é capaz de lhe oferecer o apoio emocional que necessita.

Escutar, demonstrar empatia e procurar dar apoio considerando os seus pensamentos e sentimentos em relação aos conflitos é essencial para o bem-estar emocional das crianças e jovens.

 

12 dicas para falar com as crianças sobre a guerra

No contexto do conflito na Ucrânia, que teve início em fevereiro de 2022, a Ordem dos Psicólogos publicou “Conversar sobre a guerra: perguntas e respostas para pais e cuidadores de crianças e jovens“, uma espécie de manual dedicado exclusivamente ao diálogo com os mais novos sobre a guerra. Dada a complexidade do assunto, partilhamos consigo 12 sugestões sobre como falar com as crianças sobre a guerra.

  1. Criar um espaço para a criança expressar os seus pensamentos e sentimentos
    Informe a criança que está disponível para a escutar e para falar sobre o assunto. Deve perguntar-lhe o que pensa sobre a guerra, se está assustada ou preocupada. Mesmo que respondam que “não”, damos-lhe indicação de que é natural que tenham esses sentimentos e de que podem falar sobre eles, se quiserem. Algumas crianças podem não ser capazes de falar sobre os seus sentimentos ou medos, mas podem sentir-se mais confortáveis em desenhar, brincar ou contar histórias direta ou indiretamente relacionadas com o que está a acontecer. É normal que façam a mesma pergunta ou comentário várias vezes, até que a informação faça sentido.

 

  1. Escutar e descobrir o que a criança já sabe
    Mais do que explicar ou fornecer informação sobre a guerra, deve ouvir o que a criança quer, espontaneamente, comentar ou questionar. Deixe as preocupações das crianças, nas suas próprias palavras, guiar a direção e a profundidade da conversa. Mas pode, no entanto, suscitar a sua opinião fazendo perguntas abertas, pois podem já ter tido contacto com informação através dos meios de comunicação social, da escola ou dos amigos. Estar a par do que já sabem pode também ser um bom ponto de partida para a conversa. Preste sempre atenção ao que não dizem – as expressões faciais, os gestos ou tom de voz, por exemplo, também podem revelar emoções.

 

  1. Validar os sentimentos da criança
    É importante comunicar à criança que compreendemos que o que está a acontecer nesta situação de guerra é confuso e complicado, reforçando que esses sentimentos são naturais. Não deve julgar a criança pela forma como se sente, mesmo que nos pareça fazer pouco sentido. Se não compreendermos algo, devemos mostrar respeito e pedir que explique novamente.

 

  1. Adequar a linguagem e a informação à idade
    É importante sermos honestos e não minimizarmos a gravidade da guerra, ao mesmo tempo que não há necessidade de sobrecarregar a criança com informação desnecessária e difícil de processar. É fundamental considerar também as experiências e as circunstâncias de cada criança (por exemplo, o facto de serem filhas/os de militares).

 

  1. Assegurar às crianças de que estão protegidos e seguros
    As crianças mais novas interpretam o que acontece de uma forma que não tem lógica para os adultos e que lhes pode causar medos. É importante assegurar que estão protegidas e seguras, reforçar o contacto físico (por exemplo, abraços, beijos) e manter as rotinas habituais.

 

  1. Reforçar as mensagens de esperança
    Mesmo em situações terríveis, existem pessoas que se esforçam arduamente por ajudar os outros. Deve sublinhar estes atos de coragem, bondade e serviço aos outros, pois recorda às crianças que existem sempre atos de humanidade e amor entre as pessoas. É igualmente importante enfatizar que todas as guerras acabam e que podem existir soluções não violentas para a paz.

 

  1. Assistir às notícias em conjunto
    No caso das crianças mais novas, é importante restringir o acesso à informação partilhada na comunicação social. Evite que sejam expostas a imagens e informação que as pode perturbar. No caso das crianças mais velhas e dos jovens, a abordagem mais adequada será ler ou assistir às notícias em conjunto, encorajando-as a dar a sua opinião e a colocar questões.

 

  1. Evitar estereótipos
    Devemos evitar imagens e linguagem polarizadoras ou extremistas. É igualmente importante não estereotipar grupos de pessoas pela sua pertença cultural, nacionalidade ou religião. Esta pode ser uma oportunidade para promover a tolerância e a compaixão, o respeito por todos e pela diversidade, bem como explicar o que são preconceitos e estereótipos. No caso das crianças mais velhas, podemos ainda ajudá-las a compreender que a guerra traz consequências — individuais e sociais  — para ambos os lados.

 

  1. Utilizar a conversa para encorajar a discussão de outros temas
    Uma conversa sobre a guerra pode evoluir para uma conversa sobre outras questões difíceis de resolver na nossa vida. Pode utilizá-la para estimular o desenvolvimento das crianças e jovens noutras áreas.

 

  1. Encorajar comportamentos pró-sociais
    As crianças e os jovens podem sentir-se mais seguros e confiantes quando sentem que podem fazer algo para ajudar. Aproveite a conversa para encorajar os seus comportamentos, debatendo possibilidades para ajudar e fazer a diferença.

 

  1. Monitorizar o stresse a saúde psicológica das crianças
    A guerra pode afetar mais umas crianças do que outras e é natural que se sintam confusas, perturbadas ou ansiosas. No entanto, alterações duradouras do comportamento e do sono, preocupação constante com o assunto e medo da morte, podem constituir sinais de alerta. Neste caso, deve procurar ajuda de profissionais.

 

  1. Monitorizar e cuidar da nossa Saúde Psicológica
    As crianças e os jovens aprendem a lidar com a adversidade e com o que acontece à sua volta observando a forma como os adultos das suas vidas o fazem. Por isso, é importante sabermos que a forma como respondemos ao stresse vai influenciar a reação das crianças de quem cuidamos. É natural que também sinta ansiedade com a guerra e pode dizer à criança que também sentimos medo, focando-se na forma de lidar com esses sentimentos.

 

 

Saiba mais sobre Devemos conversar com as crianças sobre a guerra? no site Lusíadas Saúde.

Hospital Lusíadas
Hospital Lusíadas
Grupo Lusíadas Saúde
Saber mais
Partilhar
Artigos relacionados