De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 70% das grávidas com uma cesariana anterior podem ter um parto normal na próxima gestação sem riscos graves para a saúde da mãe e do bebé. Afinal, a ideia de que ‘uma vez cesariana, sempre cesariana’, é só um mito?
Tenho de fazer outra cesariana outra vez?
Muitas mulheres, mesmo antes de voltarem a estar grávidas, fazem essa pergunta. Querem saber, tendo tido uma cesariana anterior, como é que vai ser o seu parto seguinte, se voltarem a engravidar ou se já estiverem grávidas de novo. Há que explicar que, de facto, depois de uma primeira cesariana, podem tentar ter um parto por via vaginal, se for esse o seu desejo.
Quando é que é obrigatório que o parto tenha de ser cesariana?
- Quando ocorreu uma cesariana há menos de 12 meses e ou quando na presente gravidez a placenta é baixa.
- Quando a cesariana aconteceu há menos de 12 meses, o risco de rotura uterina é maior.
- A placenta com uma inserção baixa, ou seja, quando a placenta está próxima do colo do útero. Nesse caso, há risco de hemorragia vaginal quando se inicia o trabalho de parto, pelo que é necessário realizar uma cesariana.
Quando há história de uma cesariana anterior, independentemente do intervalo de tempo, se a incisão foi feita na parte mais alta do útero. O risco de rotura nestes casos é maior durante um parto por via vaginal.
Quando é que uma grávida pode tentar um parto por via vaginal, depois de uma cesariana?
A tentativa de parto por via vaginal associa-se a menores complicações graves para a mulher comparativamente a uma nova cesariana.
A cesariana tem riscos:
- De infeção;
- De lesão de algum órgão adjacente durante cirurgia, mais frequentemente a bexiga, os ureteres e o intestino;
- De fenómenos de trombose venosa e de embolia pulmonar.
Estes riscos não existem, ou não têm a mesma probabilidade de ocorrer, no parto por via vaginal.
Não sendo o parto por cesariana obrigatório pelas razões clínicas já apontadas, qualquer mulher pode ter um parto por via vaginal depois de ter feito uma cesariana anteriormente.
Nem a idade nem a existência de comorbilidades excluem essa possibilidade.
Quando se faz o aconselhamento às grávidas sobre o tipo de parto, explica-se os riscos e os benefícios de cada procedimento – e não apenas para o momento do parto, também para futuras gestações.
Por exemplo, explica-se que com múltiplas cesarianas aumenta o risco de acretismo placentário numa próxima gravidez. Esta é uma situação clínica grave, em que a placenta se encontra anormalmente inserida no útero e que pode desencadear hemorragia durante a gravidez e o parto, acarretando risco de vida para a mãe e recém-nascido, exigindo até, em certos casos, a realização de uma histerectomia, ou seja, da remoção cirúrgica do útero.
Em Portugal, como as mulheres não têm muitos filhos, esta entidade não tem uma prevalência elevada. Mas em países onde a taxa de cesariana é muito elevada e as mulheres têm muitos filhos — como o Egito, a Itália ou o Brasil — isto é um problema de saúde pública importante.
Após um parto por cesariana, quanto tempo depois é ideal voltar a engravidar?
O ideal é aguardar pelo menos 12 meses para voltar a engravidar. Os dados existentes revelam que há maior risco de rotura da incisão, se o parto ocorreu há menos de 12 meses.
É necessária vigilância acrescida à grávida que já fez um parto por cesariana?
Não exige uma vigilância acrescida na gestação subsequente. É preciso, apenas, perceber bem o que deseja a grávida e ir gerindo as suas expectativas à medida que a gravidez avança.
Recuperação após partos repetidos por cesariana: cuidados a ter
Neste tipo de parto, faz-se uma incisão no abdómen. Assim, é expectável que se associe a mais dor e que a recuperação possa ser mais morosa. Ainda assim, esta recuperação e o tempo que demora é muito variável de mulher para mulher.
Normalmente têm um internamento hospitalar de 72 horas para uma recuperação mínima. Ao final de 6 semanas é natural que se sinta completamente recuperada da dor, sobretudo na parede abdominal, que é aquilo que é mais desconfortável nas mulheres que são submetidas a este tipo de parto.
O que implica a opção por parto por via vaginal, após partos repetidos por cesariana?
Nessas situações, é sempre preciso maior atenção e cuidado por parte da equipa médica que vai fazer o parto. A indução do trabalho de parto em mulheres com uma cesariana anterior é segura e pode ser feita. Não pode é ser feita com os mesmos medicamentos que se usam na indução de parto de mulheres que não têm qualquer cicatriz no útero, na medida que contractilidade excessiva aumenta o aumenta o risco de rotura uterina.
O trabalho de parto é também vigiado com especial cuidado. Os hospitais têm hoje à sua disposição técnicas e equipamentos de monitorização fetal e materna muito seguros, pelo que conseguimos, com maior confiança, antecipar os problemas e preveni-los. Daí que, atualmente, o risco das complicações maternas graves e de rotura uterina, numa tentativa de parto vaginal após cesariana, seja bastante baixo.
Estima-se que, em cada 10 mulheres com cesariana anterior, 7 conseguem ter um parto por via vaginal na gestação seguinte. Se tiver entrado em trabalho de parto espontaneamente, então esta probabilidade aumenta: em cada 10 mulheres, 8 consegue ter um parto por via vaginal.
A preocupação da equipa médica, quando tem uma grávida a tentar um parto vaginal após cesariana, é ter sempre uma boa monitorização dos batimentos cardíacos fetais e maternos, porque é isso que lhe dará a segurança de que está tudo a correr linearmente e dentro de expectável.
Consulte o artigo “Cesariana uma vez, cesariana sempre? Não!” no site Hospital da Luz.
