Durante a fase pré-concecional, a gravidez e os primeiros meses depois do parto, há transformações significativas, a vários níveis, com múltiplos desafios e mudanças. Saber reconhecer os sinais e procurar ajuda profissional para cuidar da saúde mental perinatal pode fazer a diferença para o bem-estar da mulher, do seu filho, assim como do casal e da família em crescimento.
Todas as fases são importantes
- Os meses prévios à conceção – o período periconcecional – são cruciais para a saúde reprodutiva. Há fatores de ordem emocional que desempenham um papel importante na fertilidade, podendo interferir com a capacidade de engravidar. Por seu lado, a dificuldade em conseguir uma gravidez desejada e planeada por questões de ordem física afeta negativamente a estabilidade emocional do casal.
- Do ponto de vista biológico, a gravidez e o pós-parto expõem a mãe a diversas alterações hormonais que têm impacto a nível cerebral e podem influenciar a regulação do seu processamento emocional.
- Também as alterações hormonais do pós-parto e a perceção dos sinais emocionais do bebé podem influenciar o processamento cognitivo e emocional da mãe, tornando-a mais vulnerável à ansiedade e à depressão.
Depressão e ansiedade
Estima-se que na gravidez os quadros depressivos tenham uma prevalência de 7%-25%; no pós-parto, a prevalência é de 10%-20%.
- A depressão na gravidez está associada a:
- Maior risco de complicações obstétricas;
- Dificuldades na vinculação e no desenvolvimento do bebé.
- A depressão pós-parto está associada a:
- Alterações do comportamento da mãe;
- Interferência na interação mãe-filho;
- Problemas do desenvolvimento cognitivo e sócio-emocional da criança.
Os quadros ansiosos têm sido menos estudados no período perinatal, apesar da sua prevalência estimada de 20%.
- Níveis elevados de ansiedade materna durante a gravidez estão associados a:
- Complicações obstétricas;
- Parto prematuro;
- Baixo peso do bebé à nascença;
- Problemas emocionais e comportamentais na infância e adolescência.
- No pós-parto, a ansiedade materna tem sido associada a:
- Aumento do recurso aos serviços de saúde;
- Redução do período de amamentação, especialmente em mulheres primíparas (primeiro parto).
É importante salientar que existe uma alta taxa de comorbilidade entre ansiedade e depressão, tanto para a população em geral, quanto para as mulheres grávidas. Além disso, os sintomas de ansiedade são um fator de risco para o desenvolvimento de sintomas depressivos no pós-parto.
A importância da rede de apoio para a saúde mental perinatal
Um dos fatores que afeta o risco de apresentar sintomas de ansiedade e/ou depressão no período perinatal é o tipo de suporte que a mãe recebe durante esta fase e a capacidade de sua rede social de fornecer quer o apoio emocional necessário, quer um apoio nas questões práticas do dia a dia.
Durante a gravidez, níveis de apoio social mais elevados estão associados a uma diminuição da ansiedade, uma maior perceção de controlo e menores índices de depressão pós-parto.
Consulte o artigo “Cuidar da saúde mental perinatal” no site Hospital da Luz.