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E se o meu filho não gatinhar?

E se o meu filho não gatinhar?

Em que idade o bebé segura a cabeça e se senta? Quando começa a gatinhar e andar? Conheça as respostas a questões sobre desenvolvimento motor.

Atualizado a 27/03/2023
9 MINUTOS DE LEITURA
E se o meu filho não gatinhar?

O gatinhar faz parte do desenvolvimento motor da criança, um processo complexo de mudança no comportamento e que se manifesta na sua postura e movimentos. Tem a ver com alterações complexas, nas quais participam o crescimento e desenvolvimento dos aparelhos e sistemas do organismo. Numa palavra: é crescer.

O que é o desenvolvimento motor da criança

O desenvolvimento motor é um processo contínuo ao longo do desenvolvimento global da criança, que começa por reflexos primitivos no recém-nascido e que passa pela sucessiva aquisição de competências posturais, locomotoras, manipulativas (capacidade de manipular objetos). Trata-se de um processo sequencial que tem um conjunto de etapas e durante o qual cada criança tem o seu ritmo. Envolve sempre duas áreas importantes: a motricidade global e a motricidade fina.

  • Aos 2-3 meses, a criança deve ter controlo cefálico, ou seja, controlo da cabeça.
  • Aos 6 meses, conseguirá sentar-se com apoio.
  • Aos 9 meses, essa posição de sentado deverá acontecer já sem apoio e as mãos estão libertas para manipular objetos sem os deixar cair.
  • Aos 12 meses, dará os primeiros passos.
  • Entre os 18 e os 24 meses, conseguirá começar a correr.
  • Aos dois anos, deve conseguir saltar.

 

Estas são as etapas da motricidade global, que têm a ver com grupos musculares grandes. E são intervalos médios, não idades taxativas.

A motricidade fina envolve grupos musculares mais pequenos, que implicam movimentos mais precisos, por exemplo:

  • Escrever;
  • Recortar;
  • Conseguir fazer um enfiamento;
  • Colocar uma argola numa torre de argolas;
  • Apanhar pequenos objetos, como migalhas.

Saltar etapas: e se a criança não gatinhar?

Não é possível saltar etapas. Umas competências levam às outras: a criança não pode começar a andar se ainda não tiver força nas pernas, se ainda não conseguir controlar o tronco.

Gatinhar é também uma etapa: por volta dos 9 meses, o bebé começa a gatinhar. E, apesar de haver muita tendência para se dizer que nem todos os bebés gatinham ou que há pessoas que desvalorizam o gatinhar – e, na prática de facto há bebés que não gatinham -, é preciso perceber que todos os bebés saudáveis nascem com competências para gatinhar.

O que atrasa o gatinhar?

Nuns casos, porque há adultos que acabam por querer acelerar as coisas, não deixando que o bebé explore livremente o movimento. Há até quem coloque o bebé numa posição de sentado quando ele ainda não está preparado para se sentar. Assim como há quem queira que o bebé se comece a pôr de pé ou a andar, quando ele, sozinho, ainda não iria fazer isso.

Muitos bebés até conseguem saltar a etapa. Mas o gatinhar é um movimento muito importante: estimula o corpo simetricamente e dá informação sensorial aos quatro membros, fundamental para o desenvolvimento motor do corpo.

O nosso desenvolvimento tem uma lógica. E nós não devemos tentar alterá-la.

Andarilhos: sim ou não?

Os andarilhos são úteis para os pais, mas não são bons para o desenvolvimento motor das crianças.

Podem ser usados em SOS, quando os pais precisam mesmo de lhes conter o movimento por uma razão excecional. Mas, no dia a dia, o bebé deve andar livremente no seu movimento espontâneo. Por isso, não aconselho.

Sinais de alerta e quando procurar ajuda

Em primeiro lugar é importante que os pais conheçam a sequência normal do desenvolvimento e o facto de estas etapas não serem taxativas, ou seja, há sempre um intervalo de tempo para elas acontecerem, porque as crianças não são todas iguais. Portanto, se a criança ainda não começou a andar, pode ser porque ainda não é suposto que isso aconteça.

Mas, de facto, há alguns sinais de alarme a que devemos estar atentos. Por exemplo:

  • Se o bebé, aos 2-3 meses, não tem controlo da cabeça;
  • Se, por volta dos 6 meses, existem movimentos assimétricos dos membros, ou seja, se os braços e as pernas do lado direito e do lado esquerdo não se mexem de forma igual;
  • Se, aos 9 meses, o bebé não tem controlo do tronco para ficar sentado, ainda que possa sentar-se com apoio;
  • Se, aos 12 meses, o bebé, quando nós o colocamos no chão, mas na posição em pé, não demonstra ter força nas pernas para manter o tronco direito;
  • Se, também aos 12 meses, o bebé não se mexe muito – porque é suposto, nesta idade, a criança ser bastante ativa;
  • Se, aos 15 meses, o bebé não tenta deslocar-se de todo;
  • E se, aos 18 meses, não anda.

 

Nestas situações, provavelmente será necessário procurar um especialista, para ser feita uma avaliação do desenvolvimento da criança.

Seja como for, é fundamental que os pais também percebam a importância de deixar a criança explorar o corpo e os movimentos livremente, em vez de estimular uma determinada competência, o que é arriscado.

Portanto, acho que, mais do que nos focarmos numa sequência e num conjunto de tarefas estruturadas, o que devemos fazer em casa é brincar muito com a criança e deixá-la explorar livremente o corpo, porque ela vai saber que movimentos é que precisa de fazer em determinada altura.

Que efeito teve a pandemia e o confinamento no desenvolvimento motor das crianças

É cedo para se falar desse tema. Até porque as crianças têm uma capacidade enorme para se ajustar rapidamente e recuperar competências.

Já existem estudos que apontam para um maior sedentarismo das crianças durante os confinamentos. Logo, se a criança está mais parada, mais em frente a um ecrã, com menos movimento livre, não vai explorar tanto o seu corpo e as competências não vão surgir como deveriam. Mas, como disse, é cedo ainda para se concluir que há relação entre uma coisa e a outra.

O papel do psicomotricista

O psicomotricista ou especialista em desenvolvimento psicomotor trabalha com as crianças na estimulação das várias competências que elas têm de adquirir em termos do desenvolvimento dito normal, quer na mobilidade global, quer na mobilidade fina.

Começamos sempre por avaliar a situação, para identificar bem o problema. Depois, é necessário estruturar a intervenção e as atividades a fazer em função dessa avaliação. Nessa altura, a colaboração dos pais é essencial, porque partilhamos com eles estratégias de estimulação das competências em crise, para as trabalharem em casa também.

O que é mais comum surgir na nossa consulta são alterações da coordenação motora ou alterações do planeamento motor e das funções executivas. Por exemplo, dificuldade de planear o movimento, de inibir o impulso e de autorregular-se, para conseguir fazer determinada sequência de movimentos, que é esperada. Um caso concreto: se a criança quer fazer o jogo do salto à macaca, tem de conhecer o movimento daquele jogo (capacidades de imitação) e, depois, planear o corpo para ele saltar uma vez a dois pés, outra vez a um pé, a um determinado ritmo…

A evolução de cada caso depende, naturalmente, daquilo que está na origem do problema da criança. Se se tratar de uma situação em que se verifica apenas um desenvolvimento um pouco mais tardio de determinada competência, trabalhando as atividades e os estímulos certos, conseguimos que a criança recupere rapidamente.

Mas há outras que têm condições neurológicas associadas, em que o desenvolvimento está mais comprometido. De facto, podem existir alterações motoras nas perturbações do neurodesenvolvimento, como a perturbação do espectro do autismo, a perturbação de hiperatividade e défice de atenção, a perturbação de desenvolvimento intelectual, entre outras.

Conselhos aos pais sobre gatinhar

Brincar muito com os filhos, deixá-los mexer-se livremente, proporcionar-lhes um ambiente seguro, mas que eles possam explorar.

Há uma frase que costumo dizer aos pais, nas minhas consultas: as crianças saudáveis têm os joelhos esfolados!

 

Consulte o artigo original “E se o meu filho não gatinhar?” no site Hospital da Luz.

Hospital da Luz
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