Fechar pesquisa
As expectativas na parentalidade

As expectativas na parentalidade

A aventura da parentalidade é trilhada por amor e desafios. Os pais devem ajustar o ideal à realidade, numa atitude de abertura à experiência e à descoberta da singularidade de cada criança e família.

Atualizado a 16/09/2022
4 MINUTOS DE LEITURA
As expectativas da parentalidade

O nascimento de uma família

Ainda antes do nascimento do bebé, a experiência da parentalidade é marcada pela gestão de expectativas. O bebé nasce no imaginário dos pais sob diferentes formas ou representações, desde as suas semelhanças com cada um dos pais, o temperamento, se irá comer e dormir bem, ou mesmo sob a forma de medo de uma nova realidade ainda desconhecida. Assim, quando nasce pela primeira vez um bebé, nasce também um pai e uma mãe. Esta é uma experiência única e intensa e traz grandes transformações a nível individual e na dinâmica e vida do casal: de dois, passamos a três, estando este terceiro numa condição de absoluta dependência nos primeiros tempos de vida, ao contrário de outros mamíferos que precocemente aprendem as habilidades da locomoção e da caça.

A gravidez, concebida como um tempo de espera e de “esperanças”, é também um período de criação de expectativas, de sonhos, de medos e incertezas. Preparam-se as roupas, o quarto, o lugar onde o bebé vai dormir, a mala de maternidade, até a respiração para o momento do parto. Porém, às vezes o sentir mais genuíno é o de que nunca estamos verdadeiramente preparados e de que a realidade transcende o que foi imaginado. A imagem da família em harmonia é em tantos momentos habitada pelo cansaço, pela falta de tempo individual e do casal, pela (des)organização da casa, pelas noites mal dormidas e pelas exigências e desafios de cada nova fase de desenvolvimento.

Parentalidade: uma experiência de descoberta

Na parentalidade não existe um manual de instruções, nem uma forma exclusiva de “saber fazer”, pois cada bebé e cada família são únicos, singulares e vêm com uma história, com diferentes circunstâncias e vivências, desejos e necessidades. Nos primeiros tempos, o bebé é ainda um “desconhecido”, vulnerável e sem palavras, e é preciso aprender a escutar a linguagem do corpo: do olhar, do choro, do sorriso e silencio. Assim, a parentalidade vai-se descobrindo pela experiência. Com o tempo, pais e filhos vão-se conhecendo mutuamente, passando o estranho a familiar, o medo a uma maior segurança, o imprevisível a mais regular.

Ao recordar o provérbio antigo “it takes a village to raise a child”, traduzindo, é preciso uma aldeia para criar uma criança, este dá-nos conta da importância da comunidade e do calor do meio envolvente no crescimento de uma criança. Sobretudo nos primeiros tempos de vida do bebé, os pais precisam de se sentir seguros e protegidos numa rede de apoio e suporte, que vai desde os cuidados de saúde primários, à presença de familiares e amigos.

Winnicott, pediatra inglês, no seu trabalho desenvolvido com crianças e famílias introduziu o conceito de “Pais suficientemente bons”, procurando desconstruir a representação dos cuidadores ideais e sem falhas realçando que o importante é a disponibilidade autêntica e adequada dos pais em resposta às necessidades do bebé/ criança ao longo do seu crescimento.

 

Em suma, na parentalidade as dificuldades, as exigências e desafios, coabitam diariamente com o amor, a ternura, e a ligação. O caminho será trilhado pela integração destas duas dimensões, procurando ajustar o ideal à realidade, numa atitude de abertura à experiência e à descoberta da singularidade de cada criança e família.

Margarida Costa Pereira
Margarida Costa Pereira
Psicóloga Clínica na Clínica Ser Eu
Partilhar
Artigos relacionados