Desmistificar a cirurgia
A cirurgia na criança está muitas vezes associada medo, receio e ansiedade, que pode resultar numa experiência traumática com efeitos psicológicos persistentes.
Ao longo do desenvolvimento da criança, podem ser considerados normais diferentes tipos de medo em cada faixa etária:
- Até ao 1º ano de vida têm medo de estímulos desconhecidos e intensos; situações imprevistas; pessoas estranhas.
- Entre o 2º e o 4º ano de vida têm medo de estar longe dos pais, de mudanças do meio envolvente.
- Entre o 4º e o 6º ano de vida têm medo do escuro; de se magoarem; de pessoas agressivas; de ficarem sozinhos; da separação dos pais.
- Entre o 6º e 9º ano de vida têm medo de acidentes; da morte; de um dano físico;
- Entre o 9º e o 12º ano de vida têm medo de acidentes/doenças; impressionam-se com o que ouvem ou veem.
- Entre o 12º e o 18º ano de vida têm medo de alterações/ferimentos no seu corpo; da morte; e demonstram perda de auto estima.
Estes medos e receios podem-se manifestar de forma diferente e dependem de cada criança. Algumas conseguem exprimir os seus receios e medos, outras têm alguma dificuldade em falar sobre o que os preocupa. Cabe aos pais perceber em que grupo se encontram os seus filhos, de forma a poderem ajudá-los a verbalizar, e a ultrapassar esta barreira, sabendo que têm sempre profissionais de saúde disponíveis para auxiliar nesta missão.
Estratégias para lidar com o medo
Para controlar e ultrapassar os medos da criança associados à cirurgia, existem várias estratégias que podem ser implementadas:
- Adotar uma postura que transmita tranquilidade/confiança/ segurança e deixar claro que a cirurgia é a melhor solução para resolver o seu problema de saúde;
- Escutar e esclarecer as dúvidas da criança, utilizando linguagem simples e honesta, sem omitir que a criança vai realizar a cirurgia;
- Desmistificar os medos e confusões, informando que a criança nunca vai estar sozinha, que os pais estarão sempre presentes e que os profissionais de saúde que a vão acompanhar são de confiança;
- Explicar-lhe que, à partida, não vai sentir dor, mas que, se sentir, rapidamente serão administrados medicamentos analgésicos que atuam em pouco tempo;
- Ajudá-la a concentrar-se em coisas positivas, dizendo-lhe, por exemplo, que “depois da cirurgia não vais estar tantas vezes doente porque a cirurgia vai resolver o problema”;
- Ensiná-la que ela é única, evitando comparar com outras crianças com experiências menos positivas;
- Explicar-lhe que pode solicitar a ajuda dos profissionais e que estes estão sempre disponíveis para ajudá-la;
- Levar consigo um boneco para exemplificar alguns passos do processo cirúrgico junto dos profissionais de saúde;
- Histórias/vídeos sobre crianças que vivenciaram a intervenção cirúrgica são ferramentas muito úteis.
Crianças mais pequenas (com idade inferior a três anos) têm menos capacidade para perceber o processo cirúrgico, no que diz respeito a dúvidas, ou compreender as explicações dadas pelos pais. No entanto, é importante suprimir os seus receios levando um objeto que proporcione segurança (fralda, chupeta, boneco) e transmitir segurança através de uma postura firme, dar conforto e afetos.
Durante todo o processo, os pais devem pedir auxílio aos profissionais de saúde de forma a colmatar todas as dúvidas e inseguranças. Este pedido de ajuda pode ser feito na consulta com o cirurgião, na consulta pré-anestésica com o anestesista e enfermeiro ou no dia da cirurgia enquanto a criança está a ser preparada pelo enfermeiro para a cirurgia.
A participação e o envolvimento dos pais, com uma atitude proativa neste processo, vai ajudar a criança a viver esta experiência cirúrgica de forma mais positiva e menos traumática.